22 de mai. de 2013

CAMINHANTE NOTURNO



O tumulto estava caótico. Fui correndo, sem destino. O barulho daqueles gritos penetravam e contorciam. Alguns postes das ruas estavam apagados, dificultavam a minha caminhada. Eu tremia. Minha camisa já estava rasgada, suja, fedia. Estava dentro de um mundo do qual eu não fazia parte. Era estranho, ou, me sentia assim. Nada de normalidades, nem mesmo com uma xícara de café.

Mantive os passos. Continuei respirando e tentando pensar em algo. A poeira atrapalhava minha visão. Minhas forças estavam gastas. A bateria de celular já tinha esgotado. Não tinha lanterna, ou qualquer outra coisa do tipo. As ruas eram largas e as casas escondidas. As aglomerações estavam lá. Nada estava colaborando.

Decidi sentar. Respirei fundo. Minhas costas estavam doloridas e ainda me faltava um longo caminho. Nem sempre a culpa é da estrada que você escolhe. Começava a formar calos nos meus pés. Era o perfume da dor, pensava. O breu levava as esperanças. Os sentidos se escondiam por detrás das portas.  Percebia que havia surpresas. A vida ditava as regras. 

Eu me metia nessas encrencas de dentro e tentava expor cá do lado de fora. Era impossível até, mas sempre acabava assim. Continuei caminhando em direção ao nada. Comecei a lembrar da época em que tive a coragem de encarar um frio de outono naquela praça de céu cinzento. Percebi que havia uma rua vazia, e no final dela, uma igreja fechada. 

Ninguém me seguia. Estava sozinho, até agora. Estava frio, e meus pés doloridos estavam congelando. Meus lábios roxos se batiam. A igreja estava fechada, sem nenhuma entrada. Era velha, muito velha. Feita de pedras, com portões e janelas de algum tipo de madeira muito antiga. Não havia mais o sino no local. Me escondi atrás de uma moita na lateral esquerda, perto dos fundos. Ouvi gritos e gemidos. A essa altura, eu sentia muita dor na coluna. Escutava pessoas, mas não tinha forças para levantar. Foi aí que eu despertei.

(Matheus Carneiro) 



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