4 de jun. de 2013

IMPLICAÇÕES: METAMORFOSES


Série: Implicações. 
                   Texto II - Ellen

Antes de ler, ouça essa música: Home - Michael Bublé. Eu precisava respirar. Dar um tempo à vida que tentava me comprimir. Volta e meia eu mexia em recordações barulhentas. O frio fazia doer. Sentia uma leveza no ar. Naquela noite, resolvi assistir um pouco de tevê com minha mãe. Tudo começava a se reajustar. Fazer um pouco de sentido em meio ao congestionamento rotineiro. Desde o dia do acidente, tivemos que nos adaptar as mudanças que chegaram ditando as regras.

Não passava nada do meu interesse naqueles programas, mas continuei por ali aproveitando o bom humor dela. Meu celular tocava. Jogava ele de canto e não perdia a atenção. Pretendia dormir um pouco mais cedo por conta de ter que ir para o colégio. Como morava distante, pegava o ônibus cedo. Estava quentinho estar com minha mãe naqueles cobertores no sofá antigo. Ela tomava um chá de morango e ficava procurando programações que animassem a noite. Eu juro que tentei largar o celular. Antes de deitar, organizei uns papéis soltos na mesinha que ficava do lado da cama. Na verdade, era só saudade. 

A fumaça do café logo cedinho me dava ânimo pra começar o dia. A mãe tinha feito panquecas e já tinha ido trabalhar. No ônibus, me ajustei e liguei o iPod. Ficava olhando a estrada e imaginando se algum dia teria volta, ou, pelo menos um caminho mais curto. Não sei se isso era algum tipo de paz ou confusão. Como estava frio, optei ficar as escondidas no casaco. No colégio, não estava nem um pouco interessada naquelas aulas. Era uma bagunça que me dava nojo. Às vezes, me imaginava no lugar dela. Ellen não parava de tagarelar. Começava a falar sobre o dia anterior e a tal paixão que nunca obteve. Dava até um pouco de dó dela, juro.

- O que acha de ir dormir lá em casa hoje? – Perguntou Ellen.

- Não sei, ando querendo ficar em casa. Desculpa, mas tô meia sem saco pra sair. – Falei nem dando atenção a ela enquanto mudava de música. Em alguns momentos, eu duvidava de que as coisas continuariam assim. Eu queria mudar um pouco, e talvez, sofrer algum tipo de metamorfose. Alguma coisa em mim me sufocava. Era um tipo de distração. Um sufoco qualquer.

Em casa, não tinha vontade de almoçar e nem de ouvir stress. Me joguei no sofá e por ali fiquei durante algumas horas. Não pregava o olho, mas fingia estar em outro mundo menos caótico. Cruzava as pernas e aumentava o volume da música. Quem nunca? A rotina me induzia em fantasias perigosas. Estava exausta de dias comuns. Talvez, o necessário fosse mesmo mudar. A preguiça de levantar me aconchegava.  A ausência me dava arrepios. Abraçava uma almofada e tentava não me desgrudar. Sentia um beijo na testa e um leve cafuné. Minha mãe estava de saída, e por isso, trouxe surpresas. Respirei e sorri.


Continua.


(Matheus Carneiro)


Série: Implicações. 
                   Texto II - Ellen

Um comentário :

  1. a cada texto minha ansiedade aumenta para ler o próximo,e você escreve muito bem beijos. Ana

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